poesia: TRISTE

A tarde cai em seus braços
calada olhado a chuva perguntar
como deve ser
ver a chuva daí
a chuva com gosto de lágrima
essa mesma chuva que alimenta a sede do chão
essa mesma chuva que arrepia
o corpo esguio da infância roubada
enrolado num pedaço de papelão
nas calçadas da rodoviária do detrito FEDEral
essa mesma chuva que me faz sentir acalentada
por teu sorriso preso no poster na parede do meu quarto
como aquela mesma chuva que tinha medo de trovoadas
e se agarrava ao travesseiro
essa é a chuva com gosto de riso perdido
na lembrança fresca do ainda não creio
chuva sentada num canto qualquer
te procurando nas estrelas que começam a enfeitar o cinzar
do mundo de janelas embaçadas
a chuva que trás ao fundo a lua magra
lua dos mistérios do teu doce riso menino homem
fina calada com seus olhos de um por do sol mudo
perdidas no silêncio da canção que anda pela casa
batendo cabeça em frases soltas
frases que devem dizer alguma coisa
ele não faria isso nem em pensamentos
porque sabe que mesmo que a saudade seja
apenas de uma tarde corrida
eu morreria por dentro
essa chuva sabe que minha amnesia
ainda tenta me devolver ao dia seguinte
deixando apenas a sensação sonho ruim
onde me vi na chuva com o coração abraçado
ao corpo sem vida
regando aqueles olhos fechados
clamando aos céus ou ao que inventaram pra chamar de diabo
que não se faça o que já é fato e notícia
mas essa chuva me partiu em tantas
jogou as cinzas de mim ao vento de outubro chuvoso.

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